Esqueça os dividendos + Caso Ferbasa

Muitas vezes já falei sobre os meus principais indicadores, aqueles relacionados ao Lucro operacional e a Dívida, lembra!? Exatamente, você não me verá falando sobre Dividend Yield ou Pay out em uma pré seleção de ativos esses parâmetros não são relevantes. Afinal o quanto a empresa paga sobre o preço da ação ou quanto do seu lucro será distribuído são consequência do lucro e os números em si não são um indício de qualidade.

Sei que 99% dos investidores e analistas gostam de analisar dividendos, mas vou explicar porque julgo falho esse ponto de vista. Vamos começar pelo quanto a ação paga em relação ao seu preço, famoso dividend yield, ou taxa de dividendo. No primeiro episódio da temporada do podcast alertei sobre a diferença entre ativos de especulação e ativos de investimentos, mas como já faz um tempo vou refrescar sua memória: para classificarmos um ativo como investimento o título em si deve render frutos, ou melhor, um taxa, juro, provento… Como gosto muito de investir, então é evidente que gosto de ações que pagam dividendos. Vamos a um exemplo: a empresa A paga todo ano R$ 10 Milhões de dividendos, e tem um valor de mercado de R$ 333 milhões. A conta é simples 10/333 = 0,03, ou seja, uma média anual de 3% de dividendos, com isso na média os investidores costumam ter o seguinte pensamento “vou esperar a ação cair pela metade e o dividend yield dobrará chegando aos 6% e comprarei. Parece óbvio, certo? Pelo contrário, isso não faz absolutamente nenhum sentido! A ação cai por uma crise e o seu lucro recua da mesma forma, levando a empresa a cortar seus dividendos e com a mudança de rumos ela pagará R$ 5 milhões no ano. Pronto, está perdida uma grande oportunidade, o investidor esperou a ação cair, mas ficou tão aficionado no dividendo, contudo após uma queda de 50% no preço da ação, mas com igual a queda na distribuição para R$5 milhões ele observará os mesmo 3% de dividendos e não terá a visão clara sobre a oportunidade diante dos seus olhos! Dureza perder oportunidades, concorda?
O pior de tudo é quando esse mesmo investidor analisa uma grande pagadora de dividendos mesmo na queda, provavelmente aquela empresa de péssima qualidade que optou por não cortar seu dividendo em um momento de crise, mesmo que isso comprometa o caixa futuro. Esse é o típico investidor de Oi em 2015 que no início da decorada começou a ter um dividend yield crescente e muita gente olhando somente esse indicador até hoje tem a ação e se arrepende dessa opção.
Escute essa, a melhor saída é entender a saúde financeira da empresa e ter a convicção que o lucro será crescente. No futuro você poderá ser dono de uma empresa que paga um dividendo yield medíocre, contudo você pagou metade do preço, e essa é a mágica. A empresa paga 3% para quem compra hoje a R$ 33 a ação e ganha R$1 todo ano, certo? Contudo, você foi inteligente nas suas apostas e comprou a ação a R$ 11 no passado e hoje os mesmos R$1 sobre seu preço de compra rendem a você 9% de dividendo, imagina que essa ação tão promissora no futuro pode custar R$ 100 os 3% de dividendo renderia R$ 3, mas pelo seu preço de compra dos R$11 representaria 27% de dividendo, um grande sonho. Concorda?

Mais absurdo que um filtro por dividend yield é o filtro pelos maiores payouts. O segundo indicador da minha crítica representa o quanto a empresa paga sobre o seu lucro. Exemplo, uma empresa com 80% de payout com um lucro de R$ 100 milhões pagará aos seus acionistas R$ 80 milhões em proventos. Um número como esse reflete alguns aspectos iniciais, pense comigo. Uma empresa que distribui uma fatia tão grande do seu lucro pode ser um indício que ela não tem nada interessante para investir, seja em um novo produto ou ainda no aumento da sua produção. Um exemplo comum de empresas que distribuem grande parte dos seus lucros são as concessionárias. Uma empresa que detém a distribuição de energia para uma cidade, no princípio ela paga enormes quantias de dinheiro para adquirir a concessão, inclusive na maior parte das vezes recorrendo a dívidas. Quando as operações iniciam existem clientes cativos e o preço do seu produto é corrigido pela inflação. Perfeito o capital será remunerado, contudo essa empresa não tem para onde expandir, após atender toda cidade com seu serviço, será que essa elétrica poderia ampliar a rede de distribuição dentro da cidade, construir postes no mato, para onde ela cresceria? Claro, o exemplo é caricato, mas expressa a única utilidade do payout, compreender se o pagamento de dividendos é condizente com o setor e com os planos de investimentos anunciados pela empresa. Por outro lado uma empresa de tecnologia como a microsoft a cerca de 7 anos estava sentada em um enorme caixa e ao cogitar um pagamento extra de dividendos a empresa apresentou uma semana péssima com a ação caindo e seus acionistas se questionando: como uma empresa de tecnologia não enxergava novas oportunidades de investimentos, não seria esse o setor mais dinâmico da economia, a microsoft teria perdido a capacidade de criar e evoluir…? Mais uma vez reforço que um payout alto pode ser algo ruim e tenha em mente que payout é um péssimo filtro inicial para escolher ações. Use o indicador para entender se o que o conselho apresenta como planos encontra sentido nas finanças. Exemplo: uma empresa que promete grandes investimentos e novos produtos nunca poderá apresentar um payout maior que 50%, de onde virão os recursos para os novos investimentos, parece que estão tentando enganar sua inteligência.

Caso Ferbasa
A Cia de Ferro Ligas da Bahia, criada em 61 pelo engenheiro José Corgosinho de Carvalho Filho, em 1975 doou suas ações para a fundação José Carvalho e desde então os familiares e herdeiros participam da gestão da fundação e da empresa. Um modelo raro de empresa no Brasil, mas com uma ótima governança, prova disso que o fundo soberano da Noruega, um dos mais rígidos do mundo nesse quesito, foi um sócio histórico da companhia.
A small caps distribui cerca de 50% de todo seu lucro para seus acionistas. A justificativa é muito clara, ela é dona das minas de ferro Cromo e Ferro Silício e pretende explorá-las da melhor forma possível e não almeja se tornar a maior produtora do mundo, ou seja, o foco é na eficiência. Isso inclusive fez com que passado ela comprasse terras e montasse a sua própria floresta para obtenção de energia de forma sustentável e sem ficar à mercê das variações de preço do kilowatt brasileiro. Isso mostra que a empresa historicamente é conservadora nas suas decisões e podemos facilmente justificar o nível de 50% de distribuição do lucro em dividendos. Em relação ao dividendo yield ela tem diferentes taxas no tempo, porque sendo uma empresa de commodities sua receita e lucro variam muito e em bons momentos o dividendo pode ser de 15% e em momentos ruins de 1%. A ação subiu muito nos últimos meses, mas sempre sugiro a compra caso o preço pelo valor patrimonial fique abaixo de 1. Hoje esse múltiplo está a 1,70, mas a empresa tem muita qualidade e sugiro colocar na sua lista.

De tudo que falamos espero que seus filtros para ações sejam o lucro operacional e a saúde financeira da empresa. Após você analisará o dividendo, mas lembre que ele sempre será consequência de uma empresa lucrativa. Sendo assim, escolha boas empresas e os dividendos virão até você naturalmente! Fez sentido?

Ler ou escutar? Você escolhe, abaixo o podcast completo ou acesse nos principais tocadores de áudio.

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Vinicius Machado

Vinicius Machado

Economista pela Federal do Rio Grande do Sul e com mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro. Durante a minha carreira sempre me encantei com atendimento direto às pessoas e aprendi a pensar as finanças além dos números, afinal, indivíduos não se resumem em suas metas e rentabilidades.

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